terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Leio. Gosto. Era bom que fosse assim.

"A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.

Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.

O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.

Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais."

Santo Agostinho

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sim, foi Natal.


O calendário assim o ditou. Foi Natal. O primeiro Natal sem mãe, o segundo sem pai.
Isto de deixar de ser filho de alguém é duro. É duro 365 dias por ano, mas nos dias que se dizem festivos a ausência é ainda mais marcante. Eles continuam a ser os meus pais, mas eu, hoje, sou filha de ninguém vivo. Ficam as memórias e as fotografias. Pouco, pouquinho para quem era tanto nas nossas vidas.
Este foi o primeiro Natal em que a lareira esteve apagada dia 24, em que não houve filhós feitas à lareira, nem azáfama de véspera.
Fizemos as coisas com mais antecedência é certo, mas bom bom era poder andar para trás no tempo e ser tudo como costumava ser, como devia ser, para sempre.
O dia foi feliz, os manos estiveram quase todos juntos, só faltou uma, mas que esteve lá na mesma, em pensamento. Recordámos muito e cantámos todos juntos em família o medley do José Cid. (somos fãs deste homem, todos! ) Recordámos também esta música, que a minha mãe cantava, à capela, e bem. Gostava tanto de a ouvir cantar. E falar. E rir. E de ver o Joca a aplaudi-la.
Saudades.






quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Em mim, seremos sempre 8

"Na hora de pôr a mesa, éramos cinco: 
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs 
e eu. depois, a minha irmã mais velha 
casou-se. depois, a minha irmã mais nova 
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje, 
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco."

José Luís Peixoto, em "A Criança em Ruínas"